Editoria: Vininha F. Carvalho 06/08/2005
Não toque. Esse é o conceito defendido pela cirurgia e
professora americana Ann L. Johnson quando se trata de
fraturas em cães. Não tocar significa mexer o mínimo possível
no osso quebrado, pois o próprio organismo se encarregará de
curar-se. Ou seja, invés de uma complicada cirurgia para
reconstruir a região acidentada, o veterinário pode apenas
alinhar o osso, colocar pinos externos e esperar.
Os estudos desenvolvidos pela doutora Johnson na Universidade de
Illinois, EUA, foi apresentado aos brasileiro no ano de 2000.
Ann L Johnson é uma autoridade internacional em cirurgia
ortopédica, uma das áreas mais delicadas da veterinária.
" As clínicas sofrem com o problema porque, na maioria dos casos,
o animal que sofreu um acidente chega em péssimas condições e
o diagnóstico de seu quadro é dificultado pela falta de
equipamento, o que pode atrasar o socorro e leva-lo a morte,
diz o médico Jorge Meneghello.
Outra veterinária brasileira, a professora Sheila Cavanese
Rahal, da cadeira de cirurgia de pequenos animais da Unesp de
Botucatu (SP), é uma entusiasta do trabalho da americana.
Rahal estagiou durante um mês ao lado da doutora Johnson, em
Illinois, e aplica seus conhecimentos em aula e no hospital
da universidade.
"A técnica comprova que se deve invadir o corpo do animal ferido o menos possível", explica.
"Para curar uma fratura, o método mais utilizado dentro dessa linha é a aplicação da placa e do parafuso." A placa é fixada no
osso, e pode ficar no cão para sempre. " os livros antigos
ensinavam a reduzir a fratura, mexendo em toda a região e
colocando tudo no lugar, tecidos e ossos, pedaço por pedaço.
Mas é possível apenas fazer o alinhamento do osso, fixa-lo
com a placa e o pino ou um fixador ( pinos que atravessam o
osso e são ligados externamente por uma barra) , e não mexer
em mais nada.
O organismo responde sozinho e a cura é mais rápida e menos
traumática." A velocidade da recuperação foi comprovada num
estudo realizado pela doutora Johnson e sua equipe em 1998.
Quinze cães com fraturas variadas foram operados e receberam
pinos e placas em cirurgias que levaram em média 1h30. Outros
20 cachorros nas mesmas condições foram operados de acordo
com o método antigo, uma operação que ultrapassa três horas.
Os que foram tratados com a técnica não-invasiva recuperaram-
se em aproximadamente dez semanas. Os outros levaram pelos
menos duas semanas e meia a mais. " É impressionante o que a
natureza é capaz de fazer, sozinha, quando nada atrapalha o
caminho dela", declarou a americana.
Leia agora a conversa com a Revista Focinhos.
FOCINHOS - Qual a maior dificuldade de um médico ao se depara
com um cão com fraturas?
ANN JOHNSON - O mais importante é a velocidade e o
discernimento na tomada de decisões do médico ao receber o
paciente. Ele precisa descobrir quais os procedimentos
precisam ser tomados rapidamente.
Além de decidir como curar,precisa saber o que usar, o que é melhor para o cão e para os eu proprietário. O sucesso da recuperação depende da idade do animal, do tipo de fratura e da habilidade do dono de tomar conta dos implantes durante o período de recuperação.
F - Seus estudos com a técnica não-invasiva abriram um novo
campo na cirurgia ortopédica. Quais as principais vantagens
deste tipo de intervenção?
JOHNSON- O item mais importante que notamos como estudo, foi
que, toda vez que se tenta tirar os fragmentos d e ossos e do
tecido que envolva a região fraturada, e tenta-se colocar os
mesmos pedacinhos novamente no lugar, a recuperação é
prejudicada. O corpo é bastante forte em sua resposta
biológica.
Quando se coloca um osso quebrado de volta e, seu
lugar e não se mexe mais com ele. Os fragmentos acabam sendo
reabsorvidos na estrutura do novo osso que se formou, o cão
sofre muito menos com a cirurgia.
F - Esse tipo de solução a para o trauma pode diminuir as
chances de o animal ser sacrificado por causa do acidente?
JOHNSON - A decisão pela eutanásia do animal deponde, na
maioria dos casos, do proprietário. Uma cirurgia para
implantação de pinos externos pode ser cara para as condições
do dono, e os cuidados que são exigidos no pós cirúrgico
demandam do tempo e disposição.
Às vezes o proprietário não concorda em fazer uma cirurgia e opta pelo sacrifício por saber que não terá condições de enfrentar meses de recuperação. È uma questão de tempo e dinheiro. Mas algumas pessoas tratam seus pets como crianças, e pagam qualquer
preço para vê-los bem. Não existe até quem pague para cloná-
los? Pois é, consertar uma fratura é bem mais fácil.
F - Existe relação entre a osteoporose e a incidência de
fratura em cães?
JOHNSON - Não reconhecemos a osteoporose como agente
complicador de fraturas em cães, ao contrário do que acontece
com humanos com a mesma doença. Alguns cachorros de porte
pequeno são portadores de osteoporose e pulam e brincam
normalmente, sem provocar rupturas nos ossos.
F - Qual a parte do animal mais propensa a fraturas?
JOHNSON- O fêmur, é com certeza, o osso mais atingido,
seguido pela bacia e a parte inferior do cão. È que a maioria
das fraturas é provocada por atropelamentos, que atingem a
região inferior.
F - A letalidade de um acidente depende do tipo do osso
atingido?
JOHNSON - Não, é o trauma: ou seja. O quadro geral do
organismo após um acidente que determina se a fratura pode
ser fatal. O médico veterinário tem de ter a habilidade de
detectar perfuração em órgãos, uma concussão cerebral e
outras conseqüências do acidente. A fratura está ali e pode
ser facilmente detectada, mas antes de cuidar do osso é
preciso olhar o animal como um todo, atenciosamente.
F - Em quanto tempo o cão fica curado de uma fratura após a
intervenção cirúrgica?
JOHNSON- Geralmente, o período de recuperação dura 12
semanas. Em filhotes, a cura pode acontecer em 4 semanas. Mas
em três meses servem como média para os adultos. Nesse
período, é preciso montar uma pequena enfermaria em casa,
manter o cãozinho imobilizado passear sempre com uma coleira
quando isso for permitido e nunca deixa-lo correr sozinho.