Editoria: Vininha F. Carvalho 25/08/2006
O vírus H5N1 ainda é misterioso com relação ao seu alcançe e letalidade, o que faz um possível quadro de pandemia global da gripe aviária impossível de ser previsto com exatidão. A boa notícia é que o Brasil será o primeiro país em desenvolvimento capaz de produzir vacinas contra o tipo sazonal e pandêmico do vírus, assim que o Ministério da Saúde julgar necessário.
A novidade foi anunciada na palestra Pandemia da Influenza: Situação Atual e Preparação Mundial, proferida no 11o. Congresso Mundial de Saúde Pública e no 8o. Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, que acontecem até sexta (25/08), no Riocentro.
O país já tem pronto um plano de enfrentamento e combate do H5N1, caso um cenário de pandemia venha a se tornar realidade, o que ainda parece distante de acontecer. Tratam-se com ações pragmáticas coordenadas e, em alguns casos, simuladas, nos níveis federal e estadual em termos de monitoramento, comunicação, prevenção e tratamento.
"A coordenação e integração de ministérios e governos é fundamental neste quadro", diz Jarbas Barbosa Silva Jr., secretário de Vigilância em Saúde.
Medicamento
O governo brasileiro investiu milhões de dólares na compra de 9 milhões de doses do medicamento osetalmivir. "Com esta droga podemos medicar as primeiras pessoas contaminadas enquanto fabricamos a vacina com a exata cepa do vírus equivalente ao grau da doença naquele momento", explica Silva Jr. "Não adiantaria fabricarmos uma vacina agora para uma pandemia futura cuja letalidade desconhecemos".
É importante distinguir a influenza sazonal, que ocorre geralmente em países com invernos muito rigorosos, suscetíveis a cepas mais fortes do vírus - e a gripe aviária: doença ainda considerada veterinária, com alto grau de letalidade (58% dos contaminados morrem), que tem alarmado a Ásia e se alastrado para a Europa, mas que, por enquanto, matou 238 pessoas em todo o mundo. "O vírus é o mesmo, mas cada doença tem um quadro diferente", ressalta Silva Jr.
Segundo o secretário de Vigilância em Saúde, acredita-se que o fato de a população estar sendo vacinada contra a influenza pode garantir maior resistência em caso de pandemia de gripe aviária.
"Temos de estar preparados para o pior, mesmo que este quadro não venha acontecer e que não haja comparação a pandemias históricas como a gripe espanhola, que pode ter matado até 40 milhões no século passado, quando não existiam sequerantibióticos", diz Silva Jr.
O Ministério da Saúde aposta no modelo europeu de enfrentamento da gripe aviária, que, com infra-estrutura médica e capacidade de ação, tem dado certo. "O problema são países como os asiáticos em que um agricultor pobre reluta em matar toda sua criação de frangos", explica Silva Jr.
Aliás, o Brasil, como maior produtor destas aves do mundo, poderia perder cerca de 4 milhões de postos de trabalho, caso a gripe aviária se torne ma pandemia nos trópicos. Isto, sem falar nos riscos à saúde pública. Por isso, o monitoramento rigoroso ainda é a melhor forma de prevenção. O diagnóstico não deve passar de 48 horas.