Editoria: Vininha F. Carvalho 02/03/2007
Recentemente, foram listadas 675 espécies da fauna e flora amazônica que correm sérios riscos de extinção. O Workshop para elaborar a lista vermelha do Estado do Pará reuniu mais de 50 especialistas no Museu Emílio Goeldi, deixando o Pará como o primeiro Estado da Amazônia a elaborar um documento enquadrando os espécimes da fauna e flora ameaçados nas suas diversas categorias.
O pesquisador da Ufra - Universidade Federal Rural do Pará, Expedito Guimarães, é um estudioso da malacologia (área da zoologia que estuda os moluscos) e já alertou a população da Grande Belém sobre a invasão de caracóis terrestres.
O molusco Achatina fulica, conhecido como “Gigante africano”, tem alto potencial de reprodução, é hermafrodita e coloca quatro posturas ao ano, contendo de 50 a 500 ovos cada uma. Este animal foi trazido para ao Brasil por empresários sulistas com o objetivo de produzirem o escargot, iguaria da culinária européia. Mas, o negócio fracassou e os moluscos espalharam-se por diversas cidades brasileiras. Em Belém não foi diferente.
Dessa vez o alerta é contrário; ao invés de chamar atenção para uma proliferação de caracóis terrestres, Guimarães - um dos especialistas que participou da elaboração da lista - garante que duas espécies de molusco estejam listadas. “São duas espécies de moluscos que estão ameaçadas de extinção, uma é exclusiva do Pará e a outra foi trazida dos Estados Unidos para o habitat local”, explica o malacólogo.
As duas espécies, além de incluídas na lista de ameaçados do Estado foram apresentadas à comunidade científica durante a 58ª Reunião Anual da SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que aconteceu em Florianópolis (SC) no período de 16 a 21 de julho.
Segundo o biólogo, Expedito Guimarães, as principais causas da extinção desses animais estão relacionadas à destruição de habitats e a introdução de espécies exóticas. “Os fatores de risco para essas espécies são a destruição do meio em vivem através de queimadas e desmatamentos e a introdução de outras espécies ocasionando assim a competição para a sobrevivência”, informa Guimarães.
As espécies de moluscos terrestres de ocorrência no Estado do Pará que estão ameaçadas de extinção são Eudolichotis lacerta (1855) e Euglandina rósea (1821).
A constatação da ameaça às espécies só foi possível graças a um estudo realizado por Guimarães no resto de mata de igapó no próprio campus central da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), em Belém. Num período de cinco anos (2000 - 2005) foi coletada uma amostra de 50 conchas, sendo 32 da espécie E. lacerta e 18 da espécie E. rósea.
Alguns espécimes foram dissecados para o estudo de suas estruturas, rádulas, mandíbulas, aparelho reprodutor e conchas. Segundos os aspectos biológicos, ambas as espécies apresentam-se raras, esparsas e rarefeitas propensas à extinção devido a ação predatória de moluscos africanos (Achatina fulica) e ainda do homem através das queimadas e diminuição de seu habitat.
“Essas duas espécies estão criticamente ameaçadas de extinção no nosso Estado pelos dois fatores que já citei ações predatórias de outras espécies de moluscos e do próprio homem”, conclui o pesquisador. Guimarães chama a atenção ainda para o fator de que a espécie E. lacerta só pode ser encontrada aqui no Pará.
“Essa espécie só tem registro de ocorrência no Pará, portanto, ela é endêmica deste estado e, infelizmente, ela já faz parte da ‘Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção do Estado do Pará’”, diagnostica Guimarães.